terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Inevitável mundo novo

     Nos séculos passados, mulheres chamadas de "meninas de família" eram educadas por seus parentes a preservar sua pureza e intimidade até o casamento, de modo a evitar exposições desnecessárias, de acordo com a época. Contraditoriamente ao passado, onde o acesso à vida alheia era quase bloqueado, o mundo contemporâneo compreende uma era explícita, na qual com apenas um clique é possível compartilhar sua privacidade, de maneira a confundir o público e o privado.
     A era digital, época de exposição, só é possível porque em algum momento a sociedade, além de permitir, também usufruiu de seus recursos. A humanidade, por se sentir solitária, é atraída pela ideia de saber que existem outros interessados em suas vidas. É o que acontece através de "reality shows"; de blogs e twitter, que expressam ideias e sentimentos; do orkut que expõe perfis, sejam eles falsos ou reais; álbuns de fotos que mostram o passado e redes sociais de relacionamento que definem um gênero cultural. 
     Esses fatores da nova era digital servem para tornar público o que no século das "meninas de família" queria-se que ninguém soubesse, com o intuito de preservar o caráter da própria família. Porém, o fato de ser possível acessar a rede na sua residência cria uma falsa sensação de segurança e perde-se a noção de que milhares de pessoas podem ter acesso; ou seja, a proteção física cria ilusão da proteção psicológica.
     A única privacidade que resta é a do pensamento e, mesmo assim, ninguém sabe até quando. A sociedade criada é dividida entre a tecnologia a favor da segurança social, utilizada pelo governo nas cidades e espaços públicos, e também por lojas que necessitam da condição do seguro; e aquela a favor da plena exibição pública, criada pela mídia e sustentada pela sociedade. Assim, resta ao povo seguir a comum frase: "Sorria, você está sendo filmado".

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